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Lesões Meniscais (LCA)

Joelho e Perna

O que é?

As roturas meniscais são lesões desportivas comuns em atletas jovens e podem também apresentar-se como condição degenerativa em doentes mais idosos

O diagnóstico pode ser sugerido clinicamente por dor na linha articular e teste de McMurray positivo, e confirmado por ressonância magnética

O tratamento pode ser não operatório ou operatório (meniscectomia parcial ou sutura), consoante a morfologia da rotura, envolvimento da raiz, sintomatologia e exigências de atividade do paciente

Epidemiologia

 

  • Incidência:

    Muito comum
    Indicação mais comum para cirurgia no joelho

  • Fatores de risco:

    Maior risco em joelhos com deficiência de LCA

Etiologia -Fisiopatologia

 

  • Roturas do menisco medial
  • Mais comuns do que as do menisco lateral
  • Exceção nos casos de rotura aguda do LCA, em que as roturas laterais são mais frequentes
  • Roturas degenerativas em doentes mais velhos ocorrem geralmente no corno posterior do menisco medial
  • Roturas do menisco lateral
  • Mais comuns em roturas agudas do LCA

Função e anatomia do menisco

  • Função

  • Transmissão de carga

    • O menisco otimiza a transmissão de carga através do joelho. Faz isto através de

      • Aumento da congruência

      • Maior área de contacto, reduzindo a pressão pontual

      • Absorção de impacto

      • O menisco é mais elástico do que a cartilagem articular e, portanto, absorve choques

      • Transmite 50 % da carga em extensão e 85 % em flexão

  • Estabilidade

    • O menisco aprofunda a superfície tibial e atua como estabilizador secundário

    • Menisco medial

      • O corno posterior do menisco medial é o principal estabilizador secundário à translação anterior

    • Menisco lateral

      • É menos estabilizador e apresenta o dobro da excursão do menisco medial

      • Os meniscos tornam-se estabilizadores primários no joelho sem LCA

Anatomia

Morfologia
  • Menisco medial

    • Em forma de C com secção triangular

    • Largura média de 9 a 10 mm

    • Espessura média de 3 a 5 mm

  • Menisco lateral

    • Mais circular (os cornos estão mais próximos e aproximam-se do LCA)

    • Cobre uma área articular maior

    • Largura média de 10 a 12 mm

    • Espessura média de 4 a 5 mm

Inserção
  • Ligamento transverso (intermeniscal)
    • Liga o menisco medial e o lateral anteriormente
  • Ligamentos coronários
    • Ligam o menisco à periferia
    • O menisco medial tem menor mobilidade, com fixação periférica mais rígida do que o menisco lateral
  • Ligamento meniscofemoral
    • Liga o menisco à substância do LCP
    • Origina-se no corno posterior do menisco lateral e apresenta dois componentes
    • Ligamento de Wrisberg (posterior)
    • Ligamento de Humphrey (anterior)
Irrigação sanguínea
  • Artéria genicular média
    • Irriga os cornos posteriores
  • Artéria genicular inferior medial
    • Irriga 20–30 % do menisco medial periférico
  • Artéria genicular inferior lateral
    • Irriga 10–25 % do menisco lateral periférico
  • 75 % central recebe nutrição por difusão
Inervação
  • Dois terços periféricos inervados por terminações nervosas de tipo I e II
  • Os cornos posteriores têm a maior concentração de mecanorreceptores
Lesão e potencial de cicatrização
  • Ver patologia meniscal

  • Roturas na zona vermelha (25 % periférico)

    • Podem cicatrizar por formação de tecido fibrocartilaginoso

    • O fibrocondro cito é a célula responsável pela cicatrização

    • As roturas periféricas < 4 mm têm melhor potencial de cura

  • Roturas na zona branca (75 % central)

    • Têm capacidade limitada ou nula de cicatrização intrínseca

Classificação

 

Classificação descritiva
  • Localização
    • Zona vermelha (terço externo, vascularizado)
    • Zona vermelho-branca (terço médio)
    • Zona branca (terço interno, avascular)
    • Posição (terço anterior, médio, posterior, raiz)
  • Tamanho
  • Padrão
    • Vertical/longitudinal
      • Comum, especialmente em roturas do LCA

      • Reparar quando periférico

    • Alça de balde

      • Rotura longitudinal que pode deslocar-se para o interstício femorotibial

    • Oblíquo/flap/pico de papagaio

      • Pode causar sintomas de bloqueio mecânico

    • Radial

      • Roturas radiais completas que se estendem até à junção meniscocapsular são biomecanicamente equivalentes a roturas da raiz posterior

    • Horizontal

      • Mais comum na população idosa

      • Pode estar associado a quistos meniscais

    • Complexo

  • Raiz
    • Funcionalmente equivalente a meniscectomia total

    • Roturas da raiz lateral associadas a roturas do LCA

    • Roturas da raiz medial associadas a lesões condrais

Apresentação

Sintomas
  • Dor localizada no lado medial ou lateral
  • Sintomas mecânicos (bloqueio e estalido), especialmente ao agachar
  • Inchaço tardio ou intermitente
Exame físico
  • Sensibilidade à palpação da linha articular é o achado mais sensível

  • Derrame articular

  • Testes provocativos

    • Compressão de Apley

      • Paciente em decúbito ventral, flexão do joelho e compressão axial sobre a tíbia

    • Teste de Thessaly

      • Paciente em pé, joelho em 20° de flexão no lado afetado, executa rotações internas e externas do corpo, positivo se houver desconforto ou estalido

    • Teste de McMurray

      • Com o paciente em decúbito dorsal, flexiona-se o joelho, coloca-se a mão no lado medial, roda-se externamente a perna e estende-se o joelho; um “click” palpável e dor indicam teste positivo e podem correlacionar-se com rotura do menisco medial

Imagiologia

 

Radiografias
  • Devem ser normais em doentes jovens com lesão meniscal aguda

  • Calcificações meniscais podem ser observadas em artropatia cristalina (ex. PCPP)

Ressonância magnética
  • Indicações

    • A ressonância magnética é o exame diagnóstico mais sensível, mas também apresenta elevada taxa de falsos positivos

  • Achados

    • Sinal de grau III na ressonância magnética indica rotura

    • Sinal linear de alta intensidade que se estende até à superfície superior ou inferior do menisco

    • Cisto parameniscal indica a presença de rotura meniscal

    • Roturas em alça de balde indicadas pelos sinais

      • Sinal do “duplo LCP”

      • Sinal do “duplo corno anterior”

      • Extrusão meniscal ou “sinal fantasma”, que pode indicar rotura da raiz menisca

Sinal do “duplo LCP”

Sinal linear de alta intensidade que se estende até à superfície superior ou inferior do menisco

Sinal do “duplo corno anterior”

  • Entorse do ligamento colateral medial
    • Dor ao stress em valgo com o joelho a 30° de flexão, que isola o ligamento colateral medial superficial

    • Abertura da linha articular medial

  • Síndrome da plica

    • Dor tipicamente na região parapatelar medial

    • Pode existir cordão parapatelar medial palpável

  • Lesões osteocondrais

    • Podem apresentar-se de forma muito semelhante

    • Diferenciam-se com exames de imagem (ressonância magnética)

Tratamento

Não cirúrgico
  • Descanso, AINEs e reabilitação

    • Indicações

      • Primeira linha em roturas degenerativas

    • Resultados

      • Melhoria da função do joelho após fisioterapia

      • “Não inferior” à meniscectomia parcial artroscópica

 

Cirúrgico

Meniscectomia parcial

  • Indicações

    • Roturas não reparáveis (complexas, degenerativas ou radiais)

    • Falha de sutura em mais de duas ocasiões

  • Resultados

    • Mais de 80 % de função satisfatória no seguimento mínimo

    • 50 % apresentam alterações radiográficas de Fairbanks (osteófitos, aplanamento e redução do espaço articular)

    • Fatores de sucesso

      • Idade < 40 anos

      • Alinhamento normal

      • Artrose mínima ou ausente

      • Rotura única

Transplante meniscal

  • Indicações

    • Doentes jovens após meniscectomia quase total, especialmente lateral

  • Contraindicações

    • Artrite inflamatória

    • Instabilidade

    • Obesidade acentuada

    • Lesões condrais grau III ou IV

    • Desalinhamento não corrigido

    • Artrite difusa

  • Resultados

    • Cura do enxerto em 8–12 meses

    • Retorno ao desporto em 6–9 meses

    • Aos 10 anos, melhoria persistente de dor e função, apesar da progressão radiográfica e da ocorrência frequente de recidivas ou extrusão

Sutura meniscal

  • Indicações

    • Rotura na zona vermelho-vermelho (periférica e vascularizada)

    • Largura de rebordo suficiente (distância do rasgão à junção meniscocapsular)

    • Roturas verticais ou longitudinais em vez de radiais, horizontais ou degenerativas

    • Roturas em alça de balde de 1–4 cm

    • Roturas da raiz, preferencialmente reparadas de forma aguda e associadas à reconstrução do LCA

  • Resultados

    • Taxa de sucesso de 70–95 %

    • Máximo sucesso (90 %) quando associada à reconstrução do LCA

    • Sucesso moderado (60 %) com LCA intacto

    • Resultados pobres (30 %) em joelhos com défice do LCA não corrigido

Meniscectomia total

  • Interesse histórico

  • Resultados

    • 20 % desenvolvem artrose significativa e 70 % apresentam alterações radiográficas aos 3 anos

    • 100 % têm artrose aos 20 anos

    • Gravidade da artrose proporcional à percentagem de menisco removida

Técnicas

  • Descanso, AINEs e reabilitação

    • Técnica

      • Apoio parcial de peso (PWB) e amplitude de movimento conforme tolerado

Meniscectomia parcial

  • Abordagem

    • Abordagem artroscópica padrão

  • Técnica

    • Ressecar o mínimo possível (a artrose é proporcional à quantidade de tecido removido)

    • Não utilizar dispositivos térmicos (sondas de calor)

  • Pós-operatório

    • Mobilização ativa precoce

    • Imobilização prolongada (10 semanas) é prejudicial à cicatrização em modelo canino

  • Sutura meniscal

    • Abordagem

      • Técnica inside-out (padrão-ouro)

        • Via medial da cápsula: incisão na fáscia do sartório, retração dos tendões do pes anserinus/semi-membranoso e plano entre gastrocnémio medial e cápsula

      • Via lateral da cápsula: plano entre banda ílio-tibial e tendão do bíceps femoral, seguida de retração da cabeça lateral do gastrocnémio

      • Técnica all-inside: dispositivos com âncoras plásticas ou bioabsorvíveis, permite tensão no reparo, mas pode causar rotura do dispositivo ou lesão condral

      • Técnica outside-in: útil para roturas do corno anterior

      • Sutura aberta: rara, exceto em trauma grave ou luxações do joelho

    • Técnica de sutura

      • Pontos verticais em alça são mais resistentes por capturarem fibras circunferenciais

      • Cicatrização favorecida por escarificação da zona de lesão

      • Evitar flexão do joelho acima de 90° no pós-operatório

    • Riscos

      • Nervo e veia safena (via medial)

      • Nervo fibular comum (via lateral)

      • Vasos poplíteos

  • Transplante meniscal
    • Técnica

      • Cicatrização osso-osso com plugues em cada corno ou ponte entre cornos

      • Pontos verticais periféricos em alça

      • Dimensionamento rigoroso do aloenxerto (radiografias, erro tolerado de 5–10 %)

      • Aloenxerto sobredimensionado leva à extrusão do menisco

      • Aloenxerto subdimensionado causa má congruência e aumento da carga transmitida

Complicações

  • Neuropatia da safena (7 %)

  • Artrofibrose (6 %)

  • Derrame estéril (2 %)

  • Neuropatia peroneal (1 %)

  • Infeção superficial (1 %)

  • Infeção profunda (1 %)

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