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Dedo em Mola

Punho e Mão

O que é?

 

Dedo em mola (ou polegar em mola, quando envolve o polegar) é uma condição em que há impedimento ao deslizamento suave do tendão devido a um bloqueio mecânico ao nível da polia A1, resultando em dor progressiva, estalidos, travamentos e bloqueios do dedo.

O diagnóstico é feito através do exame físico, observando-se bloqueio ativo e sensibilidade à palpação sobre a polia A1.

O tratamento inclui imobilização com tala, medicamentos anti-inflamatórios, infiltrações com corticosteróides e libertação cirúrgica da polia.

Epidemiologia

Incidência
  • Afecta 2 a 3% da população geral.

  • Presente em 10% da população com diabetes.

Localização anatómica
  • Os dedos anelar e médio são os mais frequentemente afetados em adultos.

Demografia
  • Mais comum em pessoas com diabetes.

  • Predomina em mulheres com mais de 50 anos.

Fatores de risco
  • Diabetes.

Etiologia

 

Fisiopatologia

Mecanismo

  • Causado por tenossinovite estenosante ao nível da polia A1.

Fisiopatologia

  • Metaplasia fibrocartilaginosa do tendão e/ou da polia.

  • Proliferação de condrócitos.

  • Aumento do colagénio tipo III.

  • A hiperglicemia crónica promove ligações cruzadas de colagénio.

  • Diminuição da degradação do colagénio.

Anatomopatologia

  • Nódulo patológico ocasional no tendão do músculo flexor profundo dos dedos.

  • O músculo flexor superficial dos dedos está frequentemente preservado.

  • O dedo em mola pode apresentar uma quarta polia (polia anelar variável), causadora de estenose em até 75% dos casos.

Condições associadas

Condições ortopédicas

  • Artrite reumatoide.

  • Tendinite calcificada.

  • Tenossinovite séptica.

  • Síndrome do túnel cárpico.

    • Mais de 60% dos pacientes com dedo em mola apresentam sinais clínicos ou eletrodiagnósticos de síndrome do túnel cárpico.

  • Dedo em mola congénito.

Condições médicas e comorbilidades

  • Diabetes

    • Maior prevalência de envolvimento bilateral e múltiplos dedos.

  • Amiloidose.

  • Hipotiroidismo.

  • Sarcoidose.

  • Gota.

  • Pseudogota.

Anatomia

 

Músculos
    • Flexor profundo dos dedos

      • Pode desenvolver um nódulo patológico que impede o deslizamento suave do tendão através da polia A1.

    • Flexor superficial dos dedos

      • Frequentemente não é afetado.

      • Um dos feixes pode ser seccionado para permitir o deslizamento adequado do tendão.

Ligamentos
    • O primeiro ligamento anelar (polia A1) situa-se sobre a articulação metacarpofalângica (MP).

Classificação

Grau Descrição
Grau I Dor e sensibilidade na palma, ao nível da polia A-1
Grau II Estalido do dedo
Grau III Dedo bloqueado, mas corrigível passivamente
Grau IV Dedo bloqueado e fixo

Apresentação

Sintomas
  • Sintomas comuns

    • Geralmente progressivos.

    • Dor ao nível da polia A1.

    • Estalido.

    • Sensação de bloqueio.

    • Dedo pode ficar “preso” em flexão ao nível da articulação interfalângica proximal (IFP).

    • Pode haver dor referida à região dorsal das articulações metacarpofalângica (MCF) e interfalângica proximal (IFP).

Exame físico

Palpação

  • Sensibilidade ao nível da polia A1.

  • Presença de nódulo palpável no tendão flexor.

Movimento

  • Gatilho durante flexão e extensão do dedo.

  • Flexão fixa da articulação IFP.

Teste provocativo

  • A flexão e extensão do dedo podem reproduzir os sintomas.

Imagiologia

 

Radiografias
  • Indicações – As radiografias não são necessárias para o diagnóstico ou tratamento.

Diagnóstico diferencial

 

Dedo em lumbrical plus
    • Diferencia-se pela extensão paradoxal ao tentar fletir o dedo.

Contratura articular
    • Diferencia-se pela história de trauma e incapacidade de estender passivamente o dedo.

Tenossinovite flexora piogénica
    • Diferencia-se pelos sinais de infeção, incluindo possíveis marcadores inflamatórios elevados e sinais de Kanavel positivos.

Diagnóstico

 

Clínico
  • Diagnóstico feito com base na história e no exame físico.

Tratamento

 

Não operatório

Injeção de corticosteroides

  • Indicações

    • Melhor tratamento inicial para todos os dedos

  • Resultados

    • Alívio em 60% a 90% dos casos

    • Diabéticos podem ter menor probabilidade de alívio

    • Estudos recentes sugerem que o sucesso não é influenciado pelo estado diabético

    • Pior resposta associada a sintomas de longa duração

Imobilização com talas, modificação de atividades, AINEs

  • Indicações
    • Primeira linha de tratamento
  • Resultados
    • Alívio em 40% a 97% dos casos
Operatório

Libertação percutânea da polia A1

  • Indicações
    • Falha do tratamento não operatório
  • Resultados
    • Taxa de sucesso >90%
    • Uso de ecografia pode aumentar a taxa de sucesso
    • Maior taxa de recorrência em doentes diabéticos
    • Retorno ao trabalho potencialmente mais rápido comparado à técnica aberta

Desbridamento cirúrgico aberto e libertação da polia A1

  • Indicações

    • Falha do tratamento não operatório

    • Libertação aberta é o padrão de tratamento operatório com elevadas taxas de sucesso

    • Mais fácil avaliar a qualidade da libertação em comparação com o método percutâneo

  • Resultados

    • Resultados satisfatórios em >90% dos casos

    • Maior taxa de recorrência em doentes diabéticos

Libertação da polia A1 e de uma das bandas do FDS (geralmente a banda ulnar)

  • Indicações

    • Ressurgimento ou persistência do ressalto após libertação da A1

    • Doentes com artrite reumatoide podem beneficiar da excisão da banda do FDS sem libertação da A1

    • Preservar a A1 pode evitar agravamento do desvio ulnar na articulação MCP

Dedo em mola pediátrico

  • Apresenta-se com nódulo de Notta (proximal à polia A1), contratura em flexão e ressalto

  • Tratamento cirúrgico aos 2-4 anos de idade para prevenir contratura da articulação interfalângica

  • Pode ser necessário libertar a outra banda do FDS e a polia A3

  • Resultados

    • Taxa de sucesso >90%

Técnicas

 

Imobilização, modificação de atividades, AINEs
  • Técnica

    • Imobilização da articulação metacarpofalângica (MCP) ou apenas da interfalângica distal

    • A articulação interfalângica proximal permanece livre

 

Injeção de corticosteroide

Técnica

  • Administrar 1 a 3 injeções dentro ou superficialmente à bainha do tendão flexor

  • Pode ser combinada com libertação percutânea da polia A1

Complicações

  • Atrofia da gordura

  • Rotura do tendão

  • Atrofia da gordura subcutânea

  • Hiperglicemia transitória (principalmente em diabéticos)

Libertação percutânea da polia A1

Técnica

  • Utiliza-se uma agulha de calibre 18 ou 19

  • O bisel deve estar paralelo ao tendão

  • O movimento do dedo confirma que a agulha está dentro do tendão

  • Retirar a agulha até sair do tendão, depois avançar para cortar o ligamento

  • Confirmar a libertação ao tentar reproduzir os sintomas

  • Pode ser combinada com injeção de corticosteroide

Complicações

  • Inflamação transitória

  • Formação de hematoma

  • Dor e sensibilidade persistentes

  • Rigidez

  • Infeção

  • Lesão do feixe neurovascular

Desbridamento cirúrgico aberto e libertação da polia A1

Abordagem

  • Incisão longitudinal, transversal ou oblíqua

Pós-operatório

  • Exercícios passivos e ativos precoces 4 vezes por dia

  • Se o paciente não tiver amplitude completa na primeira consulta pós-operatória, encaminhar para fisioterapia

Complicações

  • Protrusão do tendão (bowstringing)

  • Lesão do feixe neurovascular digital

  • Rigidez

    • Banda superficial apertada da aponevrose proximal à polia A1 (polia A0)

    • Um ou ambos os ramos do tendão sublimus

    • Polias adicionais como a A3

Técnica

  • Anestesia local permite avaliação intraoperatória do ressalto para confirmar libertação adequada

  • Se houver ressalto persistente, libertar uma banda do FDS

  • Além da A1, pode ser necessário libertar:

    • Banda superficial apertada da aponevrose proximal à polia A1 (polia A0)

    • Um ou ambos os ramos do tendão sublimus

    • Polias adicionais como a A3

Libertação da polia A1 e de uma banda do FDS

Abordagem

  • Incisão longitudinal, transversal ou oblíqua

Técnica

  • Anestesia local permite avaliação intraoperatória do ressalto para confirmar libertação adequada

  • Banda do FDS é destacada da inserção e removida até à palma

  • Libertação da banda ulnar pode ajudar a prevenir desvio ulnar na articulação metacarpofalângica

  • Desbridamento cuidadoso para evitar que prenda na polia proximal

Complicações

Lesão do nervo digital radial
  • Fatores de risco
    • Libertação do polegar em ressalto devido à localização superficial e orientação oblíqua
  • Tratamento
    • Pode ser necessária reparação do nervo digital e da artéria
Protrusão do tendão (bowstringing)
  • Fatores de risco
    • Lesão da polia A2 ou A4
  • Tratamento
    • Pode ser necessária reconstrução da polia
Outras complicações
  • Deiscência da ferida

  • Sensibilidade na cicatriz

  • Rigidez

  • Lesão do tendão (na técnica percutânea)

Prognóstico

 

História natural da doença
    • Sintomas progressivos iniciando com dor sobre a polia A1 e evoluindo para flexão fixa do dedo

Variáveis prognósticas
    • Favoráveis

      • Não diabéticos

Sobrevivência com tratamento
    • Alívio apenas com injeções é alcançado em até 90% dos não diabéticos

    • Alívio com cirurgia é alcançado em mais de 90% de todos os pacientes

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