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Fraturas do Úmero Proximal
Ombro e Braço
O que é?
As fraturas do úmero proximal são fraturas comuns, frequentemente observadas em pacientes mais idosos com ossos osteoporóticos, geralmente após uma queda ao nível do solo com o braço estendido.
O diagnóstico é feito através de radiografias ortogonais do ombro.
O tratamento com imobilização com tipoia é indicado para fraturas minimamente desviadas, enquanto a fixação cirúrgica ou artroplastia é recomendada para fraturas mais complexas e desviadas.
Epidemiologia
- Incidência:
Comum.
Representa 4-6% de todas as fraturas.
É o terceiro padrão de fratura não vertebral mais comum em idosos (>65 anos).
Fraturas em dois fragmentos no colo cirúrgico são as mais frequentes.
- Localização anatômica:
Podem ocorrer no colo cirúrgico, colo anatômico, tubérculo maior e tubérculo menor.
Fraturas em dois fragmentos no colo cirúrgico são as mais frequentes.
- Demografia:
Relação de 2:1 entre mulheres e homens.
O aumento da idade está associado a tipos de fraturas mais complexos.
- Fatores de Risco:
Osteoporose.
Diabetes.
Epilepsia.
Gênero feminino.
Etiologia -Fisiopatologia
- MecanismoQuedas de baixa energia:
Comum em idosos com ossos osteoporóticos.
Trauma de alta energia:
Observado em indivíduos jovens.
Associado a lesões concomitantes de tecidos moles e neurovasculares.
Etiologia-Condições Associadas
- Lesão nervosa:
A lesão do nervo axilar é a mais comum. - Lesão arterial:
Rara, com incidência de 5-6%.
Maior probabilidade em pacientes idosos.
Geralmente ocorre ao nível do colo cirúrgico ou com luxação subcoracoide da cabeça umeral.
Etiologia-Patoanatomia
- A vascularização do segmento articular é mais provável de ser preservada se houver ≥ 8 mm do calcar anexado ao segmento articular.
- Previsores de Isquemia da Cabeça Umeral (Critérios de Hertel)
- Comprimento do calcar < 8 mm anexado ao segmento articular.
- Disrupção da dobradiça medial.
- Aumento da complexidade da fratura:
- Deslocamento > 10 mm.
- Angulação > 45°.
- Observação: Previsores de isquemia da cabeça umeral não predizem necessariamente a necrose avascular subsequente.
Anatomia
Osteologia:
- Colo anatômico:
Representa a antiga placa epifisária.
- Colo cirúrgico:
Área enfraquecida abaixo da cabeça umeral.
Mais frequentemente envolvido em fraturas do que o colo anatômico.
O ângulo médio entre o colo e o eixo do úmero é de 135 graus.
Músculos:
- Peitoral maior:
desloca o eixo do úmero anteriormente e medialmente. - Deltóide:
desloca o fragmento proximal lateralmente. - Supraespinhal, infraespinhal e redondo menor:
rodam externamente o tubérculo maior. - Subescapular:
roda internamente o segmento articular ou o tubérculo menor.
Ligamentos:
- Ligamento coracoumeral:
Conecta o processo coracoide ao tubérculo maior.
Fortalece o intervalo rotador. - Ligamento glenoumeral superior (SGHL):
Restrição à tradução inferior em 0° de abdução (rotação neutra). - Ligamento glenoumeral médio (MGHL):
Resiste à tradução anteroposterior na abdução intermediária (~45°). - Ligamento glenoumeral inferior (IGHL):
Restrição à tradução anteroposterior em 90° de abdução.
Irrigação sanguínea:
- Artéria circunflexa umeral anterior:
Apresenta muitas anastomoses com outros vasos na região proximal do úmero. - Ramos:
Ramo ascendente anterolateral.
Artéria arqueada: ramo terminal e principal suprimento do tubérculo maior. - Artéria circunflexa umeral posterior:
Estudos recentes sugerem que é o principal suprimento sanguíneo para a cabeça umeral.
Classificação AO/OTA
A classificação AO/OTA organiza as fraturas em 3 grupos principais e subgrupos adicionais com base nos seguintes critérios:
- Localização da fratura.
- Estado do colo cirúrgico.
- Presença ou ausência de luxação.
Grupos principais:
- Fraturas não desviadas ou minimamente desviadas (simples).
- Fraturas desviadas com envolvimento do colo cirúrgico.
- Fraturas associadas a luxação da cabeça umeral.
Essa classificação é amplamente utilizada para orientar o tratamento e prever prognósticos com base na complexidade da fratura.
Classificação de Neer
A classificação de Neer baseia-se na relação anatômica de 4 segmentos do úmero proximal:
- Tubérculo maior.
- Tubérculo menor.
- Superfície articular.
- Eixo do úmero.
Apresentação
Sintomas
- Dor e inchaço.
- Diminuição da amplitude de movimento.
Exame físico
- Inspeção
Ecchimoses extensas no peito, braço e antebraço. - Exame neurovascular
A lesão do nervo axilar é a mais comum.
Verificar a função do músculo deltóide e a sensibilidade lateral do ombro.
Lesão arterial pode ser mascarada por uma circulação colateral extensa, preservando os pulsos distais.
Examine para lesões concomitantes da parede torácica.
Imagens
Radiografias
Vistas recomendadas
- Série completa de trauma.
- AP verdadeiro (Grashey).
- Escápula em Y.
- Axilar.
Vistas adicionais
- Oblíqua apical.
- Velpeau.
- Axilar de West Point.
Achados
- Espessura cortical combinada (espessura medial + lateral > 4 mm).
Estudos sugerem correlação com o aumento da força de tração da placa lateral. - Pseudosubluxação (subluxação inferior da cabeça umeral) causada por sangue na cápsula e atonia muscular.
Tomografia Computorizada (TC)
Indicações:
- Planejamento pré-operatório.
- Posição incerta da cabeça umeral ou do tubérculo maior.
- Cominuição intra-articular.
- Preocupação com fratura tipo “head-split”.
Ressonância Magnética (RM)
Indicações:
- Raramente indicada.
- Útil para identificar lesões associadas do manguito rotador.
Tratamento
Não operatório
A imobilização com tipoia seguida de reabilitação progressiva é uma abordagem comum para fraturas proximais do úmero.
Indicações
A maioria das fraturas do úmero proximal pode ser tratada de forma não operatória, incluindo:
- Fraturas do colo cirúrgico e anatômico minimamente deslocadas.
- Fratura do tubérculo maior deslocada < 5 mm.
Deslocamento > 5 mm resultará em impingement (conflito articular) com perda de abdução e rotação externa. - Fraturas em pacientes que não são candidatos à cirurgia.
Variáveis adicionais a considerar
- Idade.
- Tipo de fratura.
- Deslocamento da fratura.
- Qualidade óssea.
- Lateralidade (braço dominante).
- Condição médica geral.
- Lesões concomitantes.
Resultados
- A fisioterapia imediata resulta em uma recuperação mais rápida.
Operatório
Redução Fechada com Pino Percutâneo (CRPP)
Indicações
- Fraturas em dois fragmentos do colo cirúrgico.
- Fraturas em três fragmentos e fraturas em quatro fragmentos com impacto em valgo em pacientes com boa qualidade óssea, com cominuição metafisária mínima e calcar medial intacto.
Resultados
- Taxa de complicações consideravelmente mais alta em comparação com ORIF (fixação interna com placa e parafusos), artroplastia hemi (HA) e artroplastia de ombro reversa (RSA).
- O nervo axilar está em risco com pinos laterais.
- O nervo musculocutâneo, a veia cefálica e o tendão do bíceps estão em risco com pinos anteriores.
ORIF
Indicações
- Fraturas do tubérculo maior deslocadas > 5 mm.
- Fraturas deslocadas em 2 fragmentos.
- Fraturas em 3 e 4 fragmentos em pacientes mais jovens.
- Fraturas tipo “head-splitting” (fratura da cabeça umeral) em pacientes mais jovens.
Resultados
- Suporte medial é necessário para fraturas com cominuição posteromedial.
- Considerar o uso de enxerto de fíbula caso haja preocupação com o suporte medial ou qualidade óssea.
- A colocação do parafuso de calcar é crítica para diminuir o colapso em varo da cabeça umeral.
Pinos Intramedulares
Indicações
- Fraturas do colo cirúrgico ou fraturas do tubérculo maior em 3 fragmentos em pacientes mais jovens.
- Fraturas combinadas do úmero proximal e do eixo do úmero.
Resultados
- Biomecanicamente inferior em relação ao uso de placas quando se trata de estresse torsional.
- Taxas favoráveis de cicatrização da fratura e amplitude de movimento (ROM) quando comparado com ORIF (fixação interna com placa e parafusos).
Artroplastia
Indicações
- Hemiartroplastia
Em pacientes mais jovens (40-65 anos) com fraturas complexas com luxação ou componentes tipo head-splitting que podem falhar na fixação.Recomenda-se o uso de eixos conversíveis para permitir uma conversão mais fácil para artroplastia reversa (RSA) se necessário no futuro. - Artroplastia reversa total de ombro
Em indivíduos idosos de baixo demanda com tubérculos não reconstruíveis e qualidade óssea ruim.
Em pacientes mais velhos com fraturas com luxação.
Artroplastia reversa de ombro total após falha do tratamento não operatório está associada a melhores resultados funcionais do que a artroplastia reversa de ombro total após falha da redução aberta e fixação interna (ORIF).
Tratamento por Tipo de Fratura
Two-part fractures
Colo Cirúrgico
Padrão de fratura mais comum
Forças deformantes:
- O músculo peitoral puxa o eixo do úmero para anterior e medial.
- A cabeça umeral e os tubérculos anexados permanecem neutros.
Tratamento Não Operatório
- Redução fechada geralmente possível.
- Tipoia para imobilização.
Tratamento Operatório
- Indicações controversas para cirurgia.
- Técnicas de tratamento:
CRPP (Redução fechada com pino percutâneo).
Fixação com placa.
Pino intramedular.
Tubérculo Maior
Frequentemente negligenciado
Forças deformantes: O tubérculo maior é puxado para superior e posterior pelos músculos supraespinhal, infraespinhal e redondo menor.
Pode aceitar apenas deslocamento mínimo (<5mm), caso contrário, bloqueará a rotação externa (ER) e a abdução (ABD).
Não operatório
Indicado para tubérculo maior deslocado < 5 mm.
Operatório
Indicado para deslocamento do tubérculo maior > 5 mm.
- Fixação isolada com parafuso apenas em jovens com boa qualidade óssea.
- Técnica de sutura não absorvível para osso osteoporótico (evitar material de fixação devido ao impingement).
- Fiação com banda de tensão.
Tubérculo Menor
Pescoço Anatómico
Colo Cirúrgico e Tubérculo Maior
Colo Cirúrgico e Tubérculo Menor
Tratamento por Tipo de Fratura
Fratura em Quatro Partes
Fratura Impactada em Valgo
Fratura em Quatro Partes com Fratura de Cabeça (Head-Splitting)
Técnicas
- Imobilização com tipoia seguida de reabilitação progressiva
Técnica
Tipoia para conforto por 2-3 semanas, terapia física imediata para ROM precoce.
- Complicações
Com pinos laterais
Risco de lesão ao nervo axilar.
Com pinos anteriores
Risco de lesão ao tendão do bíceps, nervo musculocutâneo, e veia cefálica.
Possível migração do pino.
- CRPP (redução fechada e fixação percutânea com pinos)
Abordagem
PercutâneaTécnica
Usar pinos rosqueados, mas não cruzar a cartilagem.
Rotacionar externamente o ombro durante a colocação dos pinos.
Engajar o córtex 2 cm abaixo da borda inferior da cabeça umeral.
ORIF (Fixação Interna com Placa e Parafusos)
Abordagem
- Anterior (deltopectoral)
- Lateral (separação do deltoide)
- Aumento do risco de lesão ao nervo axilar.
Técnica
- Suturas não absorvíveis pesadas
- Técnica figura-8 deve ser usada para redução e fixação de fraturas isoladas do tubérculo maior (evitar hardware devido ao impingimento).
Parafuso isolado
- Pode ser usado para redução e fixação de fraturas do tubérculo maior em pacientes jovens com boa qualidade óssea.
Placa bloqueada
- O deslocamento do parafuso (até 14%) é a complicação mais comum após ORIF com placas bloqueadas periarticulares.
- Mais elástica do que a placa em lâmina, tornando-a uma opção melhor para ossos osteoporóticos.
- Colocar a plataforma lateral ao sulco bicipital e ao tendão do peitoral maior para evitar lesão à ramificação ascendente da artéria circunflexa umeral anterior.
- A colocação de um parafuso inferomedial do calcar pode prevenir o colapso em varo pós-operatório, especialmente em ossos osteoporóticos.
Reabilitação Pós-operatória
Intramedullary Nailing (Fixação Intramedular)
Abordagem
- Abordagem superior com separação do deltoide.
Técnica
- Fixação do prego com fraturas traumáticas ou patológicas.
- Pregos retos são colocados através da cartilagem articular superior (ponto de entrada mais central).
- Pregos com curvatura proximal são colocados através de um ponto de entrada logo medial à inserção do manguito rotador.
Complicações
-
- Migração do bastão em pacientes mais velhos com ossos osteoporóticos.
- Dor no ombro devido à violação do manguito rotador.
- Lesão nervosa com colocação de parafuso de interligação.
- Nervo radial em risco com parafuso distal lateral para medial.
- Nervo musculocutâneo em risco com parafuso distal anterior para posterior.
Hemiartroplastia
Abordagem
- Anterior (deltopectoral)
Técnica para fraturas
- Fio cerclagem ou sutura passada através do orifício na prótese e nos tubérculos melhora a estabilidade da fratura.
- Colocar o tubérculo maior a cerca de 8 mm abaixo da superfície articular da cabeça umeral (HTD = distância da cabeça para o tubérculo).
- O posicionamento não anatômico dos tubérculos resulta em comprometimento da cinemática da rotação externa, com aumento de 8 vezes nas exigências de torque.
- A altura da prótese é melhor determinada a partir da borda superior do tendão do peitoral maior.
- A distância de 5,6 cm entre o topo da cabeça umeral e a borda superior do tendão.
- A rotação externa passiva pós-operatória coloca mais estresse no fragmento do tubérculo menor.
Artróplastia Total de Ombro Reversa
Complicações
Deslocamento do parafuso
(Screw cut-out)
- Incidência: A complicação mais comum após a fixação com placa periarticular bloqueada (até 14%)
Necrose avascular (AVN)
- Fatores de risco:
– Os fatores de risco para isquemia da cabeça humeral não são os mesmos para o desenvolvimento de necrose avascular subsequente.
– Melhor tolerada do que nas extremidades inferiores.
– Não há relação com o tipo de fixação (placa ou fios cerclagem).
Lesão nervosa
- Incidência:
– A lesão do nervo axilar é a mais comum (até 58% nos estudos com EMG).
– Aumenta o risco com abordagem lateral (divisão do deltoide).
– O nervo axilar geralmente é encontrado ~5-7 cm distalmente da ponta do acrômio.
– Está em risco com pinos laterais na CRPP.
– Lesão do nervo suprascapular (até 48%).
– Lesão do nervo musculocutâneo, em risco com pinos anteriores na CRPP.
Malformação (Malunion)
- Normalmente, ocorre malformação em varo com ápice anterior ou malformação do tubérculo maior.
- Resultados inferiores se convertido de uma fratura malunida em varo para artroplastia total de ombro.
- Em vez disso, deve-se considerar o uso de artroplastia reversa de ombro.
Não união (Nonunion)
- Mais comum após fratura de pescoço cirúrgico em dois partes.
- O tratamento da não união crônica/malformação nos idosos deve incluir artroplastia.
- Não união do tubérculo menor leva à fraqueza nos testes de elevação do ombro.
- Não união do tubérculo maior após artroplastia leva à falta de rotação externa e, em menor grau, elevação ativa do ombro.
- Principais fatores de risco para não união: idade e tabagismo.
Lesões e disfunções do manguito rotador
- Lesões do tendão do longo bicípite também estão em risco com pino anterior na CRPP.
Deslocamento posterior não diagnosticado
- Considerar em todos os pacientes com fratura do tubérculo menor.
Capsulite adesiva e tecido cicatricial.
Artrite pós-traumática.
Infecção.